A terceira fase da Operação Presságio, deflagrada nesta sexta-feira (28) com mandados de busca e apreensão em 23 endereços e e seis ordens de afastamento de cargos de servidores em Florianópolis, aponta que o grupo investigado teria montado uma espécie de “rede” com pessoas responsáveis por emitir notas fiscais frias e viabilizar o suposto desvio de dinheiro público.
Segundo a investigação que baseou os pedidos de busca deflagrados nesta sexta-feira, das 20 pessoas alvos de buscas em todos os endereços visitados nesta sexta, ao menos 12 são suspeitos de auxiliar o grupo do ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Florianópolis, Ed Pereira, na emissão de notas fiscais falsas. Essas notas são referentes a serviços que não teriam sido prestados. Os documentos eram necessários para que as organizações sociais, beneficiadas com recursos públicos, pudessem pagar pelos supostos serviços descritos nessas notas.
Segundo a investigação da Polícia Civil, após o pagamento cair na conta das pessoas que atuariam como “laranjas” para emitir essas notas fiscais frias, o dinheiro seria repassado de volta para aliados do ex-secretário Ed Pereira — especialmente o ex-assessor Renê Raul Justino, apontado como braço-direito do ex-secretário e operador do suposto esquema de corrupção. Em algumas conversas, Renê teria chegado a admitir que o grupo possuiria “laranjas” para atuar na emissão dessas notas.
Conforme os investigadores, mais de 40 associações teriam sido utilizadas para operar o desvio de dinheiro público. Alguns dos investigados são suspeitos de terem emitido até R$ 100 mil em notas fiscais frias, segundo o relatório da Polícia Civil.
Ed Pereira é apontado como suposto chefe do esquema e Renê como operador financeiro. Os dois seguem presos.
Esta terceira etapa da investigação ampliou o número de pessoas investigadas que podem fazer parte do esquema. Entre os investigados que foram alvos de buscas nesta sexta há também três que são suspeitos de facilitar pagamentos e prestação de contas dos projetos e entidades beneficiados com recursos públicos.
A maior parte das informações que sustentaram os pedidos de busca desta sexta-feira também vieram da análise do telefone celular de Renê Raul Justino. As conversas descobertas com a apreensão do aparelho já haviam fundamentado os pedidos de prisão dos quatro réus detidos na segunda fase Operação Presságio, no fim de maio. Esta fase da investigação não teve mandados de prisão, mas os materiais recolhidos devem ajudar na sequência da investigação.
Quem são os alvos da terceira fase da Operação Presságio em SC:
Vereador e secretária estão entre alvos de buscas
Entre os investigados também está o vereador Gui Pereira (PSD), que atuou até janeiro como secretário municipal do Continente. Segundo a investigação, ele também seria beneficiado por desvio de recursos públicos ligados a projetos sociais. O suposto esquema, segundo a investigação, seria semelhante ao que ocorria com associações ligadas ao ex-secretário Ed Pereira.
A atual secretária do Continente, Kelly Matos de Figueiredo, também foi alvo de buscas na operação desta sexta. Segundo a investigação, ela seria uma “testa de ferro” do vereador. De acordo com um trecho do inquérito, manter a aliada no cargo “permite que esta o utilize para continuar obtendo vantagens ilícitas para o então agente político investigado”.
Adriano de Souza Ribeiro
Ex-diretor de Projetos e Políticas Desportivas na Fundação Municipal de Esportes de Florianópolis, atual comissionado na Câmara de Vereadores e diretor de Eventos da Associação Cultural e Esportiva Avante
Adriano Roberto Weickert
Ex-subsecretário da Pesca, Maricultura e Agricultura de Florianópolis
* Mandados de busca na residência e gabinete da investigada na Secretaria de Pesca, Maricultura e Agricultura de Florianópolis
Anderson Martins da Silveira
Ex-gerente de captação de recursos na Secretaria de Governo e apoiador do ex-secretário Ed Pereira em campanhas eleitorais
Carlos Eduardo Pereira Bonatelli
Empresário do ramo de eventos
Carlos Eduardo Ramos de Camargo
Presidente da Federação Aquática de Santa Catarina (Fasc)
Daniel Rodrigues Ribeiro de Lima
Empresário individual
Erick Klauss Assis Schmidt
Servidor público da Capital, lotado no gabinete da presidência da Fundação Municipal de Esportes
Ezequiel Luiz Costa de Lima
Dono da empresa ELC Serviços e Eventos e prestador de serviços para a Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura
Gabriel Antônio Euzébio
Empresário individual, ex-terceirizado na Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte e ex-apoiador de Ed Pereira em eleições passadas.
Guilherme Dias Pires
Gerente de pagamentos e prestação de contas da Secretaria da Fazenda de Florianópolis
Guilherme Pereira de Paula (Gui Pereira)
Vereador e ex-secretário municipal do Continente
Júlio César da Silva
Presidente do Instituto Bem Possível
Kelly Mattos de Figueiredo
Secretária Municipal do Continente
* Mandados de busca na residência e gabinete da investigada na Secretaria Municipal do Continente
Leonardo Costa Schmitz
Ex-diretor de Projetos e Políticas Desportivas da Fundação Municipal de Esportes de Florianópolis
* Mandados de busca na residência e na sala do investigado na Câmara de Vereadores de Florianópolis)
Leonardo Silvano
Ex-auxiliar técnico do gabinete da presidência da Fundação Municipal de Esportes de Florianópolis
Renan Martins Pires
Ex-trabalhador terceirizado na Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte e colaborador do Instituto Bem Possível
Ricardo Andrade de Oliveira (“Bocão”)
Empresário do ramo de eventos
Ricardo Borges Bortoluzzi
Responsável por cinco empresas e associações, uma delas considerada uma das principais organizações sociais usadas pelo suposto criminoso para desvio de dinheiro público.
Rodrigo Menezes Cassidori (Cotines)
Ocupante de cargo comissionado na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Florianópolis, apontado como proprietário de projetos sociais do Conselho Comunitário da Coloninha
Por nota, a defesa do vereador Guilherme Pereira de Paulo e de Kelly Matos Figueiredo declarou que os clientes não possuem qualquer envolvimento em atividades ilícitas relacionadas à contratação de associações ou recebimento de vantagens indevidas. Informou também que “todas as ações empreendidas têm como único objetivo beneficiar a sociedade”, e que “todos os fatos serão devidamente esclarecidos em uma defesa detalhada que será apresentada nos autos do processo, em breve”.
A Câmara Municipal confirmou que o alvo da ação foi um servidor da Casa, mas disse que a investigação não teria nenhuma relação com o legislativo. A assessoria da Casa informou que a Câmara está auxiliando em tudo o que está ao seu alcance e segue à disposição para colaborar no que for necessário.
A reportagem da NSC procurou a prefeitura de Florianópolis, mas ainda não recebeu um posicionamento. A defesa dos demais réus também não foi localizada até a última atualização desta reportagem.
Fonte:NSC