Nove em cada 10 agressões contra mulheres no Brasil tiveram testemunhas, diz pesquisa
Por Administrador
Publicado em 12/03/2025 21:22
Segurança

A pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, divulgada na segunda-feira (10), mostrou que nove em cada 10 agressões cometidas contra mulheres nos últimos 12 meses, o equivalente a 91,8%, foram presenciadas por alguém. Além disso, a maioria das testemunhas, cerca de 86,7%, pertenciam ao círculo social ou à família das vítimas.

 

 

 

O levantamento revelou, ainda, que mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de agressão durante o mesmo período — o número representa 37,5% do total de mulheres do país. Esse é o maior percentual da série histórica da pesquisa, que começou a ser feita em 2017, com aumento de 8,6 pontos em relação à última pesquisa, de 2023.

 

Ainda de acordo com o relatório, quase metade das vítimas (47,4%) não denunciaram o caso, nem procuraram ajuda de instituições ou de pessoas próximas.

 

O documento foi realizado pelo Instituto Datafolha, por solicitação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). A pesquisa foi feita durante os dias 10 e 14 de fevereiro deste ano, entrevistou 2.007 pessoas com mais de 16 anos de idade, entre homens e mulheres, em 126 municípios brasileiros.

 

Mas quem está presente no momento das agressões?

A pesquisa também levantou quem estava presente no momento das agressões: 47,3% eram amigos ou conhecidos da vítima, 27% eram filhos e 12,4% possuíam outro grau de parentesco.

 

Presenciar episódios de violência, segundo especialistas, pode ter efeitos duradouros na vida de alguém, além de poder originar “distúrbios emocionais, cognitivos e comportamentais, além de contribuir para uma percepção da família como um ambiente inseguro e caótico”.

 

“As evidências científicas também sugerem que crianças que testemunham violência doméstica têm maior probabilidade de serem afetadas pela violência na vida adulta, seja como vítimas ou como agressoras”, aponta o relatório. 

 

Assistir às agressões entre os pais pode, inclusive, ser pior do que ser a própria vítima, evidencia o levantamento.

 

— Confesso que me surpreendeu que nove em cada 10 mulheres que sofreram violência sofreram na frente de alguém, que quase sempre era conhecido. Só 7% foram na frente de desconhecido, mas quase tudo na frente de alguém, de um amigo, de um familiar, de filho. Isso nos chocou — pontua Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança..

 

O perfil dos agressores

Familiares, além de testemunhas das agressões, também aparecem como agressores na grande maioria dos casos.

 

— O Brasil é um dos países mais violentos do mundo e isso se reflete no dia a dia das mulheres. A pesquisa mais uma vez nos mostra que as mulheres estão desprotegidas dentro de suas próprias casas, convivendo com os agressores que, na maioria das vezes, compõem seu círculo íntimo, sejam parceiros, ex-parceiros, parentes ou conhecidos — avalia.

 

O principal responsável pelas agressões contra mulheres foi o cônjuge/companheiro/namorado/marido (40%) e ex-cônjuge/ex-companheiro/ex-namorado (26,8%). Por outro lado, pais e mães das vítimas foram os autores de 5,2% dos crimes; padrastos e madrastas de 4,1%; e filhos e filhas em 3% das ocorrências.

 

A pesquisa também apontou que a casa das vítimas é o local em que a violência mais acontece, sendo o cenário em 57% dos casos.

 

Maioria das vítimas sofreu mais de um tipo de violência

Foram, em média, mais de três tipos diferentes de agressões sofridos por essas mulheres durante o período de análise. O que mais aparece são as ofensas verbais, com 31,4%. Este tipo de violência inclui insultos, humilhações e xingamentos. Em comparação com 2023, a porcentagem cresceu oito pontos percentuais.

 

As mulheres atacadas com golpes, tapas, empurrões e chutes também tiveram um aumento expressivo, chegando a 16,9%. Esse é o maior patamar já registrado desde a primeira edição do relatório. São ao menos 8,9 milhões de brasileiras que sofreram algum tipo de agressão física no último ano.

 

A pesquisa evidenciou, ainda, que uma em cada 10 mulheres sofreram abuso sexual e/ou foram forçadas a manter relação sexual contra a própria vontade, ou seja, sem consentimento.

 

A violência sexual está entre uma das cinco existentes. Ela pode acontecer até mesmo dentro do casamento, quando ocorre o estupro marital. As outras formas são a moral, psicológica, patrimonial e física.

 

Outros tipos de violência

Lesão por objeto atirado: 4,4 milhões de mulheres sofreram lesão em decorrência de um objeto que foi atirado nelas; o número representa 8,9% do total das vítimas de violência;

Espancamento ou tentativa de estrangulamento: 3,7 milhões de vítimas foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento, 7,8% das mulheres;

Ameaça com faca ou arma de fogo: 3 milhões de brasileiras foram ameaçadas com faca ou arma de fogo, 6,4%;

Divulgação de fotos ou vídeos íntimos: 1,5 milhão de mulheres tiveram fotos ou vídeos íntimos publicados na internet sem consentimento prévio, 3,9% das vítimas de violência.

O que fazer ao testemunhar um episódio de violência?

No caso de emergência ou necessidade de intervenção imediata, a recomendação é ligar para a Polícia Militar, pelo 190.

 

A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), por outro lado, fornece várias informações, como as referentes à aplicação da Lei Maria da Penha e serviços especializados de atendimento, que também recebem denúncias de violência. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. O contato também pode ser feito via WhatsApp (61)9610-0180.

 

Fonte:NSC

Comentários