Uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, que trouxe o depoimento de um mecânico da companhia aérea Voepass, revoltou familiares de vítimas do fatídico voo que deixou 62 pessoas mortas, em 9 de agosto de 2024, incluindo passageiros de Santa Catarina. Os familiares cobram punições a responsáveis da empresa e da área de fiscalização.
O profissional da Voepass, que não teve o nome revelado, atuou na empresa antes e depois do acidente em que a aeronave caiu na cidade de Vinhedo, no interior paulista. Segundo ele, o avião com prefixo PS-VPB, era conhecido como Papa Bravo (em referência às últimas letras do código de identificação) e era a aeronave que mais dava problemas na empresa.
— Era o avião que dava mais pane. A gente avisava que o avião estava ruim. A manutenção reportava, falava, avisava. E eles queriam obrigar a gente a botar o avião para voar — afirmou, em entrevista ao repórter Álvaro Pereira Júnior.
Divulgações revoltam mãe de vítima de SC
As divulgações revoltaram familiares de vítimas do acidente da Voepass, incluindo de passageiros de Santa Catarina. A jornalista Adriana Ibba, mãe da pequena Liz Ibba dos Santos, de apenas 3 anos, que estava no avião com o pai e viria para Florianópolis mas morreu na queda da aeronave, é uma delas. Ela conta que já sentia e acreditava que a empresa teria falhado na prevenção, mas que o relato recente do ex-profissional da empresa deixou tudo mais cristalino.
— É lamentável, é revoltante. Tenho usado a força que tenho para correr atrás da verdade, e eu vou lutar, tenho lutado com unhas e dentes — afirma a mãe.
Ela cobra o papel de órgãos fiscalizadores como a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e afirma que o caso não foi uma fatalidade.
— Nós, enquanto consumidores, não tínhamos ideia da falta de fiscalização que existe — afirmou.
A reportagem do Fantástico também mostrou imagens de aeronaves paradas em um aeroporto de Ribeirão Preto (SP), cidade-sede da companhia, que segundo o mecânico seriam usadas para fornecer peças a outros aviões que seguem voando, em processo que de acordo com ele ocorreria com irregularidades – algo que a empresa negou em nota enviada à emissora.
A reportagem também mostrou áudios e conversas de funcionários da Voepass criticando supostas falhas de segurança e manutenção das aeronaves por parte da companhia.
Associação também se manifesta
Após a divulgação da reportagem, a Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283, da Voepass, divulgou nota afirmando que inúmeras pessoas tinham conhecimento das condições precárias da aeronave e da possibilidade de que algo pior acontecesse.
“O único sentimento que nos permeia é de REVOLTA”, afirma a entidade, em um trecho da nota. “Nós temos absoluta certeza de que nossos familiares, se tivessem o mínimo de conhecimento sobre as condições da aeronave, NUNCA teriam entrado naquele avião da Voepass. Assim como temos CERTEZA de que se a empresa tivesse sido responsável com a segurança dos passageiros, aquele avião não teria decolado naquelas condições. Temos CERTEZA de que se as fiscalizações tivessem ocorrido de forma assídua e correta, nossos familiares não teriam partido daquela maneira dolorosa e cruel”, afirma outro trecho.
Os familiares agora defendem o indiciamento e denúncia dos responsáveis ao final das investigações do caso, feitas pela Polícia Federal e pelo Cenipa, órgão da Aeronáutica.
Na semana passada, a Anac determinou a suspensão de todos os voos e atividades comerciais da Voepass. O motivo foi a “incapacidade da Voepass em solucionar irregularidades identificadas durante a supervisão realizada pela agência”.
Fonte:NSC